HQ | “Meu Amigo Dahmer”, de Derf Backderf (resenha)


Em sua primeira HQ publicada, a Editora Darkside traz a história da adolescência de um dos maiores assassinos já conhecido.

Já ouviu falar sobre Jeffrey Dahmer? Serial killer que assassinou 17 homens e garotos entre 1978 e 1991 com requintes de crueldade. Seus crimes envolviam violência sexual, necrofilia e canibalismo. Quando o apartamento de Dahmer foi descoberto pela polícia, um verdadeiro horror se fez notar: fotografias das vítimas assassinadas, cabeças e pênis guardadas em frigoríficos, cadáveres em vasilhas de ácido e um altar de velas e crânios também foi encontrado.

Jeffrey Dahmer
Com crimes tão perversos, Jeffrey Dahmer foi condenado a 957 anos de prisão. Cumpriu a pena no Instituto Penal Columbia, em Wisconsin, onde morreu em 1994, assassinado por outro detento. Se a trajetória de crimes de Jeffrey Dahmer chama a atenção, sua vida antes de se tornar o “Canibal de Milwaukee” também, e sobre a adolescência de Dahmer nos anos 1970 é que o autor Derf Backderf centra sua graphic novel “Meu Amigo Dahmer”.


Com um estilo cartunesco dos quadrinhos alternativos, Backderf constrói uma narrativa de memórias, onde lembra os anos em que foi colega de Jeffrey Dahmer no colegial. Já no prefácio, Backderf deixa claro sua relação com Dahmer:

“Para você, Dahmer era um monstro depravado; para mim, era um garoto que sentava do meu lado e com quem eu matava tempo na sala de música do colégio.”

Assim como sua visão após a descoberta dos crimes:

"Dahmer era um infeliz, um ser problemático, cuja perversidade estava quase além da compreensão. Tenha pena, mas não simpatia.”

“Meu Amigo Dahmer” narra, a partir da visão de Derf Backderf, a adolescência de Jeffrey Dahmer enquanto estudava o colegial. A HQ é feliz em recriar a atmosfera da cidade rural de Bath, em Ohio, sem perder de vista o que era ser adolescente nos anos 1970.

A graphic novel mostra vários momentos vividos por Dahmer: as dificuldades de inclusão nos grupos no colégio; a conturbada relação dos pais, Lionel e Joyce, que terminou em divórcio, o que acabou levando Dahmer a se tornar um alcoólatra; a descoberta da sua homossexualidade. Backderf se apoiou não apenas em suas memórias, mas recorreu a uma extensa pesquisa histórica. Entrevistou dezenas de colegas e professores, leu arquivos do FBI e da polícia, e analisou as entrevistas dadas por Dahmer. O resultado de tal estudo é a graphic novel “Meu Amigo Dahmer”.


A edição feita pela Editora Darkside é de excelente qualidade gráfica. Além da graphic novel em si, a publicação traz reflexões de Backderf assim como rascunhos, cenas deletadas, as fontes históricas utilizadas e um vasto conjunto de notas.  A organização do livro em capítulos torna a leitura mais suave e evita o cansaço construindo momentos episódicos.

Fica claro que ao escrever “Meu Amigo Dahmer”, Derf Backderf compartilha sua carga de agonia e inquietações que surgiu após saber dos crimes cometidos em 1991. Somente 20 anos depois, Backderf conseguiu publicar sua obra do jeito que gostaria que fosse. "Meu Amigo Dahmer" pode ser caracterizado como uma obra sobre a indiferença. Sobre os anos em que Backderf passou ao lado de Dahmer sem perceber o potencial assassino que o amigo representava. Se ele não tinha a maturidade para perceber as ações de Dahmer – um garoto que já estava bêbado desde as primeiras horas da manhã – por que os professores não notaram? O autor questiona a indiferença e sua narrativa com uma perspectiva bem pessoal faz de “Meu Amigo Dahmer” uma história que pode ter acontecido – ou está acontecendo – com qualquer um de nós.

HQ: "Meu Amigo Dahmer"
Autor: Derf Backderf
Páginas: 288
Ano: 2017
Editora: Darkside

Será possível identificar os traços de personalidade de um assassino antes mesmo que ele comece a matar? Imagine descobrir que um amigo seu de escola acabou se transformando num dos mais temidos serial killers do século? Essa é a história real que o quadrinista Derf Backderf relata na graphic novel MEU AMIGO DAHMER.

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