Arquivo H | Valores Espartanos




É muito comum nos livros didáticos encontramos a valorização das características militares dos espartanos e como os cidadãos de Esparta desenvolveram uma cultura de cidadania permeada por tais características. No primeiro "Arquivo H" do blog, vamos analisar três documentos históricos que revelam os valores espartanos sobre cidadania, autoridade e liberdade.

Documento #001 – sobre a cidadania espartana:

Após a refeição, o irens ainda na mesa fazia uma pergunta cuja resposta exigia reflexão, por exemplo: “Qual é o melhor cidadão?” ou “Qual é o mérito da conduta deste ou daquele?” Assim, eles eram treinados para apreciar o valor e interessar-se pela vida da cidade desde a meninice. Se a criança a que se perguntava quem era um bom cidadão ou quem era indigno de estima não soubesse responder, via-se aí uma pessoa lerda e pouca interessada. A resposta inconveniente trazia uma punição. O autor era mordido no polegar pelo irens. Frequentemente, os Anciãos estavam presentes para verem o irens punir as crianças e mostrar se o fazia devidamente e como convinha. Não impediam que ele castigasse. Mas, após a partida das crianças, ele devia explicar se fora demasiado severo no castigo ou, ao contrário, se fora tolerante e brando demais. 

Plutarco. A vida de Licurgo, XVIII, 1-7. 

Relatório: o texto acima demonstra um dos métodos pedagógicos de Esparta. Podemos perceber que se valorizava as qualidades de um bom cidadão e se a criança não soubesse diferenciar um bom cidadão de um mau cidadão era punida, pois sua falta de interesse revelava a construção de um mau cidadão. Esperava-se que os meninos pudessem valorizar as questões da cidade e da cidadania desde a infância. O fato do irens ser interrogado pelos anciãos longe das crianças seria uma forma de não diminuir a autoridade do instrutor perante seus alunos. 

Documento #002 – sobre pais e filhos

Algumas medidas de Licurgo diferiam daquelas da maior parte dos povos. Licurgo, desejoso de que os cidadãos pudessem ajudar uns aos outros, permitiu que cada um pudesse mandar igualmente em seus filhos e em filhos de outros. [...] Quando uma criança reprimida por outro pai se queixa a seu próprio pai, seria vergonhoso para este, caso não castigasse seu próprio filho com novas punições.  
Xenofonte. A Constituição Lacedemônica. 

Relatório: na lição que se quer aplicar no texto acima, podemos ver como o militarismo se fazia presente na vida cotidiana. Os castigos infligidos aos menores por qualquer adulto incute o valor autoritário característico da cultura militar espartana. Se o próprio pai não punisse o filho que esse já havia sido punido por outro adulto, a vergonha recaía na sua falta de autoridade sobre o filho já que falhas não eram permitidas. 

Documento #003 – sobre a liberdade

O rei persa Xerxes esta pronto para combater os gregos quando soube que os soldados inimigos eram somente 5 mil, diante dos 20 mil de seu numeroso exército. Mandou chamar o general espartano e, para convencê-lo a se render, argumentou:
- Se os gregos fossem submissos à autoridade de um rei absoluto, à nossa maneira, poderiam, com medo dele, mostrar-se até mais bravos do que são naturalmente e marchar forçados por chicotadas, apesar de seu número reduzido, contra inimigos mais numerosos. Mas sendo livres para agir, eles não fariam qualquer dessas coisas. [...] Há entre meus lanceiros persas homens capazes de combater de bom grado contra três gregos juntos.
Em resposta a isso, o espartano falou:
- [...] O homem que eu combateria com maior satisfação entre todos seria um daqueles que se vangloriam de valer três espartanos. Os espartanos não são inferiores a homem algum em combate, e juntos eles são os mais valentes de todos os homens. De fato, sendo livres eles não são livres em tudo; eles têm um senhor – a lei – mais respeitados pelos espartanos que tu por teus súditos. Eles cumprirão com certeza todas as suas ordens, e suas ordens são as mesmas: não fugir do campo de batalha diante de qualquer número de inimigos, mas permanecer firmes em seus postos e neles vencer ou morrer.
Heródoto (484 .C. - 425 a.C.). Histórias, VIII, 103-4.
Relatório: os números fornecidos pelos registros de Heródoto hoje são contestados pela maioria dos historiadores, mas o texto acima nos oferece a oportunidade de refletir sobre o conceito de “liberdade” para os espartanos. A “liberdade” possui limites já que eles não são inteiramente livres, mas estão submetidos ao seu "senhor", a lei. É interessante perceber como esse conceito de liberdade pode ser refletido com o nosso conceito de liberdade nos dias de hoje já que pela Constituição somos todos livres, mas nossa vida em sociedade está regrada pelos direitos e deveres impostas por ela.

FONTE: História em documento: Imagem e texto, 6º ano / Joelza Ester Domingues Rodrigues, Ed. Renovada. São Paulo: FTD, 2009. (Coleção história em documento: imagem e texto). p. 190-191.

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