História nas Estrelas | A Nebulosa de Caranguejo



Texto de Gabriel Sampaio Mafra


Durante vários dias, o tempo estivera mormacento, inadvertidamente quente e nublado. Nessa noite, porém, o céu estava claro e brilhante. E quando Tycho olhou para o alto, foi tomado por uma surpresa ainda maior. 

E “surpresa” é um eufemismo, sem dúvida. O que Tycho Brahe (1546-1601) avistou naquela noite, 11 de novembro de 1572, transformaria sua vida. Mais importante ainda, mudaria para sempre a nossa visão do firmamento e a compreensão da humanidade sobre o Universo. 

Situada na constelação de Cassiopeia, o novo objeto brilhava com uma intensidade muito maior do que aquelas antigas estrelas. “Impressionado e como que estupefato e extasiado, fui conduzido a uma tal perplexidade pelo inacreditável da coisa, que comecei a duvidar da fé nos meus próprios olhos”, lembrou ele mais tarde. 


Nas Crônicas da China medieval, relata-se um acontecimento intrigante sobre "uma estrela visitante" que apareceu próxima a estrela Zeta Tauri em julho de 1054. De acordo com a tradução de J. J. Duyvendak (1942) no texto, contido no Sung Shi ou Anais da Dinastia Sung, narra-se o seguinte: "…no primeiro ano do período Chih-ho, na 5ª lua, no dia chi-ch'ou, uma estrela visitante apareceu aproximadamente algumas polegadas a sudeste de Tien-Kuan….Depois de mais de um ano ela gradualmente tornou-se invisível…" 


A nova estrela abalava as próprias origens da ciência. Tycho vivia em uma época em que os eruditos acreditavam nos gregos antigos Aristóteles e Ptolomeu, que ensinavam o geocentrismo. Mais recentemente, Nicolau Copérnico propusera que o Sol devesse ocupar o centro da cena. 

Para eles nada mudaria no firmamento, ele era perfeito. Ainda assim, eis ali uma mudança no céu que era absolutamente evidente. Só uma explicação se encaixaria no dogma: a estrela devia estar dentro da atmosfera terrestre. Tycho foi o homem que verificou isso. 

Tycho, com seus instrumentos de medição observou que a estrela deveria estar dezenas de vezes mais distante que a Lua, assim como as outras estrelas. A sua medida da nova estrela de 1572 foi um acontecimento que deu inicio a uma medição cada vez mais precisa, que mergulharia cada vez mais fundo no espaço e nos mostraria que a Terra é nada mais que uma pequena parte insignificante de um imenso Universo. Hoje, sabemos que o que Tycho observou foi uma supernova, e seu remanescente pode ser observado, a nebulosa SN 1572.

Em 1054 d.C. uma estrela da constelação de Touro explodiu, uma explosão em supernova, fazendo com que a luz oriunda desse evento fosse notada e registrada em manuscritos chineses, japoneses e europeus. 


Especula-se que os índios americanos anasazi registraram o evento em pedra. Foi considerada uma estrela "convidada" pelos chineses e brilhou cerca de quatro vezes mais que Vênus durante quase um mês. 


Hoje essa grande explosão é conhecida como a Nebulosa do Caranguejo, ou M1 (catálogo Messier) ou NGC 1952 (Novo Catálogo Geral), que abriga em seu centro uma estrela de nêutrons.


REFERÊNCIA: Heater Couper e Nigel Henbest, A História da Astronomia. Editora Larousse, 2009.

           _________________________________________________________________________________



História nas Estrelas é a nova coluna do História em Cartaz que tratá textos sobre astronomia e sua relação com os estudos históricos.

Comentários