W.

DE FANFARRÃO A PRESIDENTE. OLIVER STONE RETRATA NA TELA GRANDE A TRAJETÓRIA DO POLÊMICO EX-PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, GEORGE W. BUSH

 

W., filme sobre a trajetória política de George W. Bush lançado em 2008, dividiu a crítica americana. Segundo a revista Variety “o filme oferece uma imagem clara e plausível da maquiagem psicológica do atual líder e, considerando a reputação de Stone e a vasta impopularidade de Bush, um tratamento relativamente imparcial e moderado das políticas recentes”. No entanto o “The Hollywood Reporter” afirma que o filme é bom, mas nada ousado e é dessa publicação que vem o comentário mais interessante sobre W., a revista afirma que “seu maior valor recai na intenção de falar sobretudo do que passa por nossas mentes atualmente sem esperar que o façam os historiadores”.

Poderia ser um diretor um historiador também ao captar o imaginário de uma época? Uma questão complexa e polêmica, mas que não é uma surpresa quando pensada em W. filme do diretor Oliver Stone, reconhecido pelo seu engajamento político em seus filmes como Nixon, JFK: A Pergunta Que Não Quer Calar, Platoon e Nascido em Quatro de Julho.

 
Além da própria discussão em torno do tema “diretor-historiador”, W. entra no gênero das cinebiografias que por si só já são polêmicas pois, apesar de baseadas em fatos reais, o filme sempre é uma obra de ficção. O que vemos na tela passou pela escolha do diretor e da interferência dos atores. Em muitas vezes o filme acaba mitificando a vida do cinebiografado.


A falta de ousadia destacada pelo “The Hollywood Reporter” tem o seu fundamento. Stone faz um filme convencional, onde através de flashbacks retrata momentos marcantes da trajetória de vida de George W. Bush.

Em W. vemos George W. Bush desde a faculdade até a presidência. Nessa trajetória, Stone destaca a juventude de Bush, seus conflitos com o pai – o ex-presidente George H. W. Bush – o problema com o alcoolismo e sua redenção “divina”.

Alguns críticos vêem W. como o filme mais satírico ou sarcástico de Oliver Stone. Segundo próprio diretor “o filme tenta entender Bush e torná-lo um ser humano” e continua “tentei ser justo e equilibrado. Tentei não tomar um partido”.

 O ator Josh Brolin torna-se um dos maiores acertos no filme de Stone. Apesar de pouco parecer com Bush, Brolin em uma boa caracterização, brilha em determinada cenas lembrando em muito o ex-presidente norte-americano.


O ator esteve temeroso antes de aceitar o papel, mas ao ler o roteiro ficou decidido em fazê-lo. “Bush é uma personalidade exagerada. Tentamos criar um drama com a realidade daqueles exageros, mas não acho que isso seja palhaçada”, declara o ator.

O filme tem alguns momentos interessantes, como por exemplo, a sequência inicial, onde George W. Bush e sua cúpula - Dick Cheney, Colin Powell, Karl Rove, Donald Rumsfeld e Condoleezza Rice – discutem a invasão do Iraque feita em 2003; a relação de Bush com o pai e a conversão religiosa que torna, no filme de Stone, Bush como uma espécie de predestinado, chegando a comparasse com Moisés. 





W. estreou nos Estados Unidos no dia 17 de outubro de 2008, três semanas antes da eleição presidencial que elegeu Barack Obama como 44º presidente. Sobre o momento do lançamento do filme, Stone defendia-se dizendo que “seja quem for o vencedor da eleição, o impacto de Bush mudou o mundo” e completou “Esse homem nos deixou com três guerras -- Iraque, Afeganistão e a guerra contra o terror -- e o legado do ataque preventivo”.

Na época, membros do próprio governo manifestaram-se sobre o filme. Dana Perino, porta-voz de Bush, disse que “a Casa Branca tinha coisas mais importantes para fazer do que comentar um filme ridículo”. Stone teve muita dificuldade de produzir o filme em Hollywood, tanto que teve que buscar fora do país investimentos para a produção. W. é uma produção globalizada.

W. é um filme que merece ser visto, não apenas pelo exercício cinematográfico de Oliver Stone, mas até para refletirmos sobre o atual cenário mundial que logo estará nas páginas dos livros de História.


Título original: W.
Diretor: Oliver Stone
Gênero: Drama
País: EUA/ Austrália/ Hong Kong/ Suíça/ China
Produção: Bill Block, Moritz Borman, Paul Hanson, Eric Kopeloff
Roteiro: Stanley Weiser
Fotografia: Phedon Papamichael
Trilha Sonora: Paul Cantelon
Duração: 128 min.
Ano: 2008

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