Alexandria


Alexandria, filme de Alejandro Amenábar foi lançado quase que despercebidamente no Brasil em Blu-ray e DVD, com dois anos de atraso, pois não foi lançado nos cinemas originalmente. Pouco conhecido, este filme tem como personagem principal a filósofa, matemática e astrônoma Hipátia, filha de Theon, o último diretor conhecido da Biblioteca de Alexandria. O filme além de traçar a trajetória de Hipátia nos mostra o contexto histórico da ilustre cidade egípcia que vivia momentos conturbados com as diferenças religiosas entre cristãos e pagãos.

O filme prima pela sua qualidade narrativa de imagens, focando as idéias de Hipátia a respeito das órbitas planetárias, os conflitos entre pagãos e cristãos, buscando passar uma mensagem de união esquecida pela humanidade.


O filme inicia-se em 391 a.C. e apresenta uma reconstituição da cidade de Alexandria que enche nossos olhos. Nessa reconstrução destaca-se a famosa Biblioteca de Alexandria, onde boa parte da ação do filme se constrói. Nesse período, o Egito ainda era uma província do Império Romano, mas no século IV, a civilização romana já havia perdido muito do seu poder. No entanto o esplendor da antiguidade persistia em Alexandria e na sua famosa biblioteca.

O que torna Alexandria um filme interessante para ser trabalhado em uma análise pedagógica é por abordar alguns pontos que pouco são trabalhados nos currículos escolares. Além claro da licença poética que os filmes carregam, o filme de Alejandro Amenábar apresenta a representação de fatos históricos importantes do mundo ocidental.

Primeiramente destacamos a figura de Hipátia (Rachel Weisz), filósofa, matemática e astrônoma, no filme ela é apresentada como uma mulher visionária, a frente do seu tempo, pois ocupava lugares que geralmente eram ocupados por homens, como por exemplo, foi diretora da Biblioteca de Alexandria. Hipátia era uma filósofa muito importante na sua época, conhecida por resolver problemas que geralmente confundiam a cabeça de vários matemáticos contemporâneos seus. Nas palavras de Sócrates, o escolástico:

Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos.

O filme mostra a contribuição de Hipátia para o entendimento das órbitas planetárias. O modelo ptolomaico, onde a Terra seria o centro do universo e oito esferas, ou “céus”, que representariam as órbitas de corpos celestes como a Lua e o Sol indicavam a trajetória dos astros em torno do nosso planeta. No entanto o modelo ptolomaico não satisfazia a certas indagações que aparecem ao longo do filme: a Terra estaria ou não em movimento? Por que o Sol parece mudar de tamanho do Verão para o Inverno? A partir dessas problematizações, Hipátia teoriza que para o Sol ocupar duas posições ao mesmo tempo sua órbita teria que ser uma elipse. A cena em que Hipátia comprova essa teoria é muito bem construída.


Outro elemento narrativo utilizado por Amenábar em Alexandria é abordar o contexto histórico das atribulações religiosas que marcaram não somente a cidade de Alexandria, mas também o início do Cristianismo no século IV.

Aqui vale uma ressalva do por que a reconstrução desse momento é importante: geralmente nas aulas de História, ao estudarmos sobre os primeiros séculos do Cristianismo, recebemos as informações de que essa nova religião, ou seita, que se propagava pelo Império Romano à época era formada por um grupo de vitimados pelas perseguições impostas pelos imperadores romanos. Sempre nas aulas – e essa ideia é reforçada também em inúmeros filmes – dos cristãos sendo torturados e mortos na arena do Coliseu; de tudo de ruim que acontecia em Roma era culpa dos cristãos; Nero queimando Roma e colocando a culpa nos seguidores de Cristo e por aí vai... No entanto se os adeptos do cristianismo eram perseguidos, perseguidores também eles se tornaram, e Amenábar reconstrói essa situação em particular.

Em 391 d.C. o patriarca de Alexandria, Teófilo, a fim de aplicar as medidas contra o paganismo determinadas pelo imperador Teodósio, ordenou a destruição da Biblioteca de Alexandria e a pilhagem das coleções. Momento esse mostrado no filme. A destruição da Biblioteca devia-se ao fato de que junto a ela funcionava um templo pagão conhecido como Serapeum dedicado ao deus Serápis, divindade egípcia que era a fusão de Ápis e Osíris. Dessa forma o templo se tornou alvo da fúria dos cristãos.

Alexandria avança no tempo e depois de mostrar a perseguição que os cristãos infligiram aos pagãos, os judeus tornam-se o novo alvo dos adeptos de Cristo. De fato, na cidade de Alexandria havia uma grande presença de judeus e logo após a nomeação de Cirilo para ser patriarca de Alexandria, a violência entre esses dois grupos aumentava cada vez mais. Cirilo foi um cristão defensor da ortodoxia da Igreja e combatia heresias.

Hipátia também foi vítima da perseguição imposta por Cirilo. Em 415 d.C., ela foi atacada por um grupo de cristãos em plena rua, foi golpeada, desnuda e arrastada para uma igreja, onde foi torturada e teve seu corpo dilacerado. Depois de morta, seu corpo foi lançado a uma fogueira. Hipátia, segundo Sócrates, o escolástico, devido sua influência junto ao prefeito de Alexandria, Orestes, foi alvo de retaliação dos fiéis de Cirilo, visto que o prefeito teria ordenado a execução de um monge cristão.

O filme Alexandria de Alejandro Amenábar merece um pouco da nossa atenção por retratar fatos e épocas que geralmente não são abordados na sala de aula e nos dias de hoje, onde filmes apresentam a História ao grande público, cabe aos professores da área em utilizar o cinema como uma ferramenta pedagógica essencial para as aulas.

Título original: Ágora
Direção: Alejandro Amenábar
Produção: Álvaro Augustín, Fernando Bovaira, Simón de Santiago, José Luis Escolar e Jaime Ortiz de Artiñano
Roteiro: Alejandro Amenábar e Mateo Gil
Elenco: Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac e Rupert Evans
Gênero: Drama
Ano: 2009

Comentários

  1. Obrigado por mostrar um pouco do filme, tenho que fazer um trabalho sobre ele, uma resenha contando o contexto histórico, religioso e científico do filme Alexandria e com base nesse texto posso começar a fazer essa resenha.

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