Zona Verde


Zona Verde (2010), de Paul Greengrass nos coloca num dos episódios da história recente: a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003. No filme, o capitão Roy Miller (Matt Damon) faz parte de um grupo de soldados destinados a encontrar as armas químicas de destruição em massa de Saddam Hussein, armas que serviram de pretexto para que o presidente George W. Bush justificasse a invasão. Mas logo o capitão Miller percebe que tais armas não existem e dessa forma decide, por si só, descobrir a verdade por trás disso tudo.

Greengrass no seu estilo documental de filmar, nos mostra as primeiras semanas da presença norte-americana na cidade de Bagdá. O trabalho de 10 anos sobre cobertura de conflitos globais para o canal inglês ITV deixa o diretor de Zona Verde mais a vontade nesse filme. Ele consegue recriar uma Bagdá arrasada após os bombardeios norte-americanos que começaram no dia 20 de março de 2003. Recria na tela a aflição do povo iraquiano que sofre com as consequências do ataque, pois estão desprovidos de recursos básicos como eletricidade e água.


Apesar de um tema já cansado em 2010 – todos já sabiam da farsa orquestrada por Bush sobre as armas de destruição em massa – Zona Verde coloca em destaque essa questão levando a questionar as razões da guerra. A análise das imagens e dos fatos em torno da repercussão do filme abrem caminho para uma discussão sobre o tema.

A invasão do Iraque iniciou-se em março de 2003, através de uma aliança entre os Estados Unidos com o Reino Unido e outros países (aliança conhecida como Coalização). As operações iniciaram no Kuwait e seguiu-se com uma série de bombardeios na cidade de Bagdá. Abrindo terreno para movimentação em terra, as tropas norte-americanas encontraram pouca resistência – lembrando que o poderio bélico iraquiano estava em deterioração desde a Guerra do Golfo, em 1991.

No dia 4 de abril, o aeroporto internacional de Bagdá é ocupado pelas forças da coalização e no dia seguinte tanques norte-americanos já podem ser vistos no centro de Bagdá.

A capital iraquiana é tomada em 9 de abril e no dia 1º de maio, o presidente George W. Bush declara o fim das operações militares, a dissolução do partido Ba’ath e a deposição do presidente Saddam Hussein.

“Zona Verde” que dá titulo ao filme refere-se a aérea de diplomacia criada em torno do palácio presidencial de Saddam em Bagdá. O contraste entre o interior do palácio ocupado com o exterior representado no filme é evidente. As dependências do palácio lembram um hotel de luxo que ocupado pelas tropas da coalização lembram uma colônia de férias. No lado de fora reina uma paisagem de ruínas, do perigo constante provocadas pelas forças leais a Saddam e do desespero do povo sedento por água.

O filme procura questionar os motivos que levaram os Estados Unidos a guerra: o suposto armazenamento de armas químicas de destruição em massa no Iraque.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo norte-americano inicia sua “guerra ao terror”, procurando exterminar grupos terroristas como a Al Qaeda de Osama Bin Laden que assumiu a autoria dos atentados que derrubaram as torres do World Trade Center em Nova Iorque. Com o pretexto de encontrar armas de destruição em massa, que representaria um perigo aos Estados Unidos, George W. Bush decide invadir o Iraque, mesmo sem a aprovação do conselho da ONU, mas com o apoio dos líderes de estado como Silvio Berlusconi (Itália), José María Aznar (Espanha), Durão Barroso (Portugal) e Tony Blair (Reino Unido).

No entanto esse motivo não se sustentou por muito tempo. As supostas armas de destruição em massa jamais foram encontradas e a ligação de Saddam Hussein com grupos terroristas jamais foi comprovada, visto que tais grupos xiitas se opunham a Saddam que era sunita. O próprio Pentágono, em estudo, divulgou a inexistência de qualquer vinculo de Saddam Hussein com a rede Al Qaeda.

Também ficou comprovado em estudos que o presidente Bush e seu gabinete havia lançados declarações falsas sobre a iminente ameaça representada pelo Iraque e pelas suas armas de destruição em massa. O relatório do Centro para a Integridade Política diz que tais declarações "foram parte de uma campanha orquestrada que galvanizou a opinião pública e levou o país a uma guerra com justificativas decididamente falsas".

Em menos de um ano, o presidente Bush muda o discurso. Diz que a “ocupação do Iraque” fazia parte de um programa da libertação de países e a promoção da Democracia e da Paz Mundial.

Paul Greengrass
É essa trama que envolve informações falsas que Paul Greengrass dá destaque no seu filme. Tal conteúdo serve para que a discussão sobre as guerras possa ser feita. Qual a finalidade de uma guerra? Qual seria a verdadeira intenção de invadir o Iraque? Junto ao filme: quais fatos da realidade Paul Greengrass aborda no seu filme? O que é o ficcional e para que serve esse ficcional? Ajuda na discussão do tema? Se bem questionado e analisado, Zona Verde representa uma excelente fonte de discussões e recurso pedagógico.

Num trabalho desenvolvido em sala de aula, seria bom que os alunos fizessem uma pesquisa sobre o histórico de relações entre os Estados Unidos e o Iraque.

É importante ao se fazer uma análise histórica de um filme é pesquisar sobre as repercussões que ele provocou. Sobre Zona Verde é interessantes percebemos que o filme aborda um tema após sete anos do seu evento. As discussões sobre as informações falsas durante a era Bush fizeram diminuir a popularidade do presidente. O filme não foi bem de bilheteria, dentro dos padrões hollywoodianos isso representa um fracasso. Esse detalhe deve ser levado em consideração: afinal de contas, por que o público norte-americano não correspondeu ao filme? Estaria a população cansada em falar sobre a guerra do Iraque? Sobre a era Bush? Envergonhada também? A discussão fica aberta.

Discurso do presidente dos Estados Unidos George W. Bush quando a invasão do Iraque completou cinco anos:

Neste dia em 2003 os Estados Unidos começaram a operação 'Liberdade para o Iraque'. Assim que a campanha começou, milhares de nossas tropas cruzaram a fronteira iraquiana para libertar o povo iraquiano e remover um regime que ameaçava nações livres. Em cinco anos nessa batalha, há um debate compreensível sobre se esta é uma guerra que vale a pena lutar, se vale a pena vencê-la e se podemos vencê-la. As respostas são claras para mim. Remover Saddam Hussein do poder foi uma decisão correta. E esta é uma luta que a América pode e deve vencer. Os homens e mulheres que entraram no Iraque há cinco anos removeram um tirano, libertaram um país e resgataram inúmeras pessoas de horrores inomináveis. Algumas dessas tropas estão conosco hoje e precisam saber que o povo americano está orgulhoso de suas conquistas. Assim como o comandante em chefe". (...) "Porque agimos, Saddam Hussein não enche campos com os restos de homens, mulheres e crianças. Porque agimos, as câmaras de tortura, salas de estupro e prisões infantis foram fechadas. Porque agimos, o regime de Saddam Hussein não está mais invadindo seus vizinhos, atacando-os com armas químicas e mísseis balísticos. Porque agimos, o regime de Saddam não está mais pagando as famílias de terroristas suicidas na Terra Santa. Porque agimos, o regime de Saddam não está mais atirando em aeronaves americanas e britânicas que patrulham as zonas de segurança e desafiando a vontade das Nações Unidas. Porque agimos o mundo está melhor e os Estados Unidos da América estão mais seguros.

título original:Green Zone
gênero:Ação
duração:1 hr 45 min
ano de lançamento: 2010
distribuidora: Universal Pictures (EUA) | United International Pictures
direção: Paul Greengrass
roteiro: Brian Helgeland, baseado no livro de Rajiv Chandrasekaran
produção: Tim Bevan, Eric Fellner e Lloyd Levin
música: John Powell
fotografia: Barry Ackroyd

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