A Múmia


Folheando um livro didático destinado ao 6º ano do ensino fundamental uma coisa me chamou a atenção, na unidade referente às civilizações da África e do Oriente as ilustrações usadas na apresentação do conteúdo eram imagens de filmes. No caso do Egito Antigo a imagem utilizada era do filme O Retorno da Múmia (2001). As imagens eram usadas em tom desafiador. O texto referente a essas imagens questionava o aluno se ele sabia de quais filmes as imagens se relacionavam. A dica para relacionar a imagem do filme O Retorno da Múmia ao Egito Antigo era a seguinte: "Um se passa em um país conhecido por construções como pirâmides e esfinge".

Refletindo sobre a situação exposta acima é incrível percebemos o quanto pouco sabemos sobre as antigas civilizações da África e do Oriente, pelo menos no que tange ao conteúdo exposto nos currículos escolares. Acabamos criando um imaginário apartir de algo bem elementar que nos é sugestionado como as pirâmides por exemplo, sendo que a pirâmide não uma caracteristica excusiva do Antigo Egito. É perceptível que na disciplina História o destaque maior fica para o mundo greco-romano. Dessa forma dificilmente podemos ter um olhar mais crítico quando algo relacionado ao Egito Antigo, por exemplo, nos é exposto para discernirmos entre o fato e a ficção. A não ser quando estudamos por contra própria ou nos especializamos.


O Egito Antigo já serviu de inspiração para diversos filmes. Nesse texto escolhi o filme A Múmia (1999), de Stephen Sommers para iniciarmos uma breve viagem a fascinante terra dos faraós. Também escolhi esse filme para percebermos qual a nossa percepção dessa antiga civilização e também notarmos de que maneira acabamos construindo uma visão do Egito Antigo através dos filmes.

Também quero aproveitar a oportunidade para apresentar, de maneira breve, um histórico das múmias no cinema, desde o primeiro filme até sua últimas aparições.

Um dos motivos que escolhi o filme A Múmia (1999) para ser o centro desse texto é que este filme nos possibilita fazer uma análise visual e descobrir o quanto podemos estar "enganados" sobre aquilo que vemos.

Quero deixar claro desde já que sei que o filme A Múmia (1999) não tem a menor intenção de ser didático; sua função é entreter. Mas isso não nos impede de percebermos algumas "liberdades artísticas" e se torna interessante quando assistirmos ao filme com outros olhos.

DESENFACHANDO A MÚMIA

O primeiro ponto que destaco é a geografia. Na cena inicial temos uma tomada em movimento, a câmera desce e vai mostrando as pirâmides; a câmera continua descendo mostrando a esfinge. Conclusão: estamos na planície de Gizé, pois é nessa região que se localizam as mais famosas pirâmides do Egito, as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, além da não menos famosa esfinge. No entanto... a câmera continua descendo e em plano aberto contemplamos a cidade de Tebas. Tebas!? Só que geograficamente isso é impossível. A planície de Gizé localizava-se no Baixo Egito enquanto que a cidade de Tebas no Alto Egito, ou seja, separadas por quilômetros de distância. Outro detalhe é que Gizé e Tebas localizam-se em diferentes margens do rio Nilo. Enquanto Tebas localiza-se na margem oriental, as pirâmides de Gizé localizam-se na margem ocidental. E esse fato tinha uma lógica para os antigos egípcios. As pirâmides localizam-se no ocidente, pois acreditava-se que o mundo dos mortos ficava nesse ponto, alíás era o lado que o sol se põe, ou seja, morre.

Vamos agora a alguns personagens do filme. Começamos pelo faraó Seti I. Este era filho de Ramsés I com a rainha Sitré e governou o Egito entre cerca de 1291 a.C. e 1278 a.C. O seu governo durou um pouco mais de uma década, mas foi marcada por conquistas como a tomada da cidade síria de Kadesh. Seti I foi pai do também famoso Ramsés II e morreu ainda novo com pouco mais de 40 anos. No filme A Múmia, Seti I é o faraó traído por seu sumo-sacerdote Imhotep e sua esposa Anck-Su-Namum.

Imhotep existiu. Pelo menos alguém com esse nome existiu no Antigo Egito. Ele foi auxiliar do faraó Djeser (2630-2611 a.C.), da 3ª dinastia. Foi um homem de feitos notáveis. Era perito em medicina e foi ele também que arquitetou a primeira pirâmide do Egito - a pirâmide de Sacara. Após sua morte, Imhotep foi divinizado passando a ser considerado filho do deus Ptah com uma mulher. Ele foi patrono dos escribas, curadores, sábios e mágicos.

Outra personagem interessante é Anck-Su-Namum. O que podemos dizer a seu respeito é que ela é bastante polêmica. Para alguns estudiosos ela nunca existiu, pelo menos nunca existiu alguma mulher usando esse nome. O que sabemos é que existiu uma Ankehesamun e que esta foi casada com o faraó Tutancâmon. Esta Ankehesamun era filha da rainha Nefertiti com o faraó Akhenaton. Aos 14 anos ela casa-se com Tutancâmon que era seu meio-irmão.

Outro ponto é a utilização do Livro dos Mortos, que no filme é um livro de ouro, aberto por uma chave e que detém o poder de trazer os mortos à vida. Na verdade, o Livro dos Mortos era feito em papiro e continha uma série de preces e instruções que ajudariam a pessoa atravessar os inúmeros perigos do caminho até o mundo subterrâneo. Esses textos eram depositados junto do morto para guiá-lo no Além.

Por que Imhotep ao ressuscitar foi atrás dos vasos guardados na sua tumba? Porque aqueles não eram simples vasos, eram os vasos canopos. Durante o processo de mumificação as vísceras eram extraídas do corpo do defunto, lavadas e embalsamadas. Depois eram depositadas em quatro vasos com tampas em forma de homem (onde guardava-se o fígado), de babuíno (onde guardava-se os pulmões), de chacal (onde guardava-se o estômago) e de falcão (onde guardava-se os intestinos).

MÚMIAS NA TELA GRANDE.

Múmias no cinema possuem um longo histórico. Quase sempre elas são evocadas para provocar terror no público. O mais antigo filme é de 1909, A Múmia de Ramsés. Nos anos posteriores mais três filmes com o título A Múmia apareceram: um francês, um inglês e um norte-americano. Depois seguiram-se outros, destaco Os Olhos da Múmia (Der Augen der Mumie) de 1918; A Múmia, de 1959 com a dupla Christoher Lee e Peter Cushining. Em 1971 chegava às telas Sangue no Túmulo da Múmia, adaptação de A Jóia das Sete Estrelas, de Bram Stoker.

Um dos filmes mais famosos referentes ao tema é A Múmia, de 1932. Neste filme Boris Karloff encarna Imhotep, grande sacerdote condenado a guardar o túmulo da princesa Anquesenamon. Imhotep ressucita graças ao Livro Sagrado de Tot e tenta reviver a múmia de sua amada reencarnada em uma jovem inglesa. A melhor interpretação de múmia é considerada a de Boris Karloff que chegava a passar oito horas diárias coberto de ataduras e de barro. O filme A Múmia, de 1932 foi a base para o filme A Múmia, de 1999.

Uma coisa é praticamente comum em todos os filme que evocam o Antigo Egito: a aura de mistérios e magia. Esta antiga civilização continua ainda sendo uma terra de mistérios, magias e encantamentos e o cinema cada vez mais reforça essa ideia. É uma pena que pouco seja explorado em sala de aula o estudos de civilizações como a egipcía, pois ainda temos muito a descobrir, muito mais do que o cinema pode nos oferecer.

título original:The Mummy
gênero:Aventura
duração:2 hr 4 min
ano de lançamento: 1999
direção: Stephen Sommers
roteiro: Stephen Sommers, Lloyd Fonvielle e Kevin Jarre, baseado no roteiro escrito para o filme
produção: Sean Daniel e James Jacks
música: Jerry Goldsmith
fotografia: Adrian Biddle

Comentários

  1. Alexandre, simplesmente ameeeiiii seu poste sobre a múmia, além de gostar muito do filme, foi legal saber que personagens realmente existiram. hehe.

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  2. Olá Alexandre,
    em primeiro lugar, é muito boa a iniciativa do seu blog de mostrar a riqueza do cinema com a História. Seu post sobre o filme a Múmia é muito interessante. realmente é uma questão curricular não aparecer muito sobre civilizações como o Egito que possuí uma ciência especifica para estudo que é e "Egiptologia".

    em segundo lugar, parabéns pelo seu blog. estamos seguindo.

    um grande abraço

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  3. Parabéns Alexandre!

    Sou professor de História da rede pública do estado do Rio Grande do Sul e com os primeiros anos estou dando o conteúdo Egito Antigo. Para despertar o interesse dos alunos é sempre importante utilizar imagens e recursos audiovisuais (cinema), tuas explicações sobre o filme a Múmia caíram como uma luva....


    Obrigado

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    1. Agradeço seu comentário, Paulo Azevedo, essa é uma das intenções do blog, compartilhar conhecimento e ajudar na didática do dia a dia das aulas de história. Muito obrigado.

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  4. Você poderia me ajudar a responder algumas questões do meu trabalho sobre esse filme?, vi o filme mas estou com dificuldades em respondê-las

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  5. Facilitou minha pesquisa sobre Egito antigo :)

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