Chaplin


Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação
Charles Chaplin


Chaplin (1992) dirigido por Sir Richard Attenborough – com certeza todos o conhecem por ter interpretado John Hammond, dono do Jurassic Park no filme homônimo – procura mostrar a história de um dos maiores gênios do cinema que ficou imortalizado pelo seu personagem, o Carlitos. O filme além de narrar a história de Chaplin, acompanha também a própria trajetória do cinema, das apresentações em quermesses até aos grandes cinemas de luxo. Chaplin, em sua história de vida, mostrou-se atento a realidade e ao contexto histórico em que vivia e refletia isso em seus filmes como Tempos Modernos e O Grande Ditador. My Autobiography, de Charles Chaplin, e Chaplin, His Life, His Art, de David Robinson foram as obras que serviram de base para o roteiro do filme desenvolvido por William Boyd, Brian Forbes e William Goldman.

CHAPLIN: SUA VIDA
Charles Spencer Chaplin, filho de Charles Chaplin e Hanna Hill – interpretada no filme pela filha de Chaplin na vida real, Geraldine Chaplin – nasceu no dia 16 de abril de 1889 e desde o cinco anos de idade já se apresentava com o pai num music-hall de Aldeshoot. Depois da morte do pai, a situação da família Chaplin encontra-se em miséria. Hanna Hill enlouquece e é hospitalizada por seus dois filhos no asilo-orfanato de Hanwell Residential School – como retratado no filme.



Em 1899, Chaplin e seu irmão Sidney são contratados pela trupe Maggie Morton. Assina, em 1907, contrato com Fred Karno, que fazia sucesso com espetáculos de mímica. Charles supera-se em suas apresentações e em 1909 realiza sua primeira temporada em Paris.

Sua ida a Paris é algo muito significativo em sua trajetória, pois foi nessa cidade onde os irmãos Lumière, Georges Méliés e Max Linder faziam surgir o cinema que ainda lutava para possuir uma linguagem própria e o reconhecimento social. Max Linder, anos mais tarde, disse: “Chaplin teve a gentileza de me confessar que os meus filmes o levaram a fazer os seus próprios filmes. Chaplin chamou-me de mestre, mas fui eu que tive o prazer de aprender com ele”.

Em 1910 era a vez de Chaplin se apresentar nos EUA, onde é bem acolhido. Em 1912 regressa a Inglaterra, retornando aos EUA em 1913. Encontram êxito representando um gentleman bêbado em A Night in a London Club. Em Hollywood conhece Max Sennett e o Estúdio Keystone, onde assina um contrato definitivo.

No ano de 1914, Chaplin realiza 35 filmes. É o realizador e argumentista em 21 de seus filmes. Em julho seus primeiros filmes são exibidos na Grã-Bretanha dando início o boom de Chaplin em Londres.

É também em 1914 que nasce Carlitos, o imortal personagem de Chaplin. Em Corrida de Automóveis para Meninos, a pedido de Sennett, Chaplin cria o personagem: “pensei que poderia usar umas calças muito grandes e uns sapatos enormes, além de uma bengala e um chapéu coco. Queria que tudo fosse contraditório: as calças folgadas, o paletó apertado, o chapéu pequeno e os sapatos enormes. Não sabia se deveria parecer velho ou jovem, mas quando me lembrei que Sennett tinha pensado que eu era bem mais velho, coloquei um bigodinho que me daria alguns anos sem esconder a minha expressão”. Nascia “Tramp”, ou Carlitos, como ficou conhecido nos países de idioma espanhol e no Brasil.

Chaplin assina contrato com a Essanay em 1915 e com a Mutual em 1916. Em 1917, Chaplin assina contrato com a First National, que controlava em 1919 3400 cinemas nos Estados Unidos. Nesse novo contrato Chaplin passa a ganhar mais de um milhão de dólares.

Em 1918, quando os EUA entra na Primeira Guerra Mundial, Chaplin viaja para vender bônus de guerra junto com Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Os atores são recebidos pelo presidente Wilson. Charles Chaplin fala em Wall Street na presença de trinta mil pessoas. Ainda em 1918, Chaplin, apesar do compromisso com a First National, uniu-se com Fairbanks, Pickford e ao realizador David Grifith para criarem a United Artists. A intenção de criar essa nova companhia era romper com o monopólio de Hollywood.

Em 1920, Chaplin realiza O Garoto. No ano de 1922, Hanna Chaplin, sua mãe, chega de Londres acompanhada por Tom Harrington. Hanna é instalada numa residência em Santa Mônica, Hollywood. Em 1924 começa a trabalhar no filme Em Busca do Ouro. Dois anos depois começa as filmagens de O Circo que estréia em 1928, no Strand Theatre de Nova York.

Em 1929, Hanna Chaplin morre e Chaplin entra uma crise de depressão nervosa. Durante esse ano Chaplin trabalha em Luzes da Cidade.

No ano de 1931 apresenta Luzes da Cidade em Nova York e em 1936 estreia Tempos Modernos que não é bem recebido pela crítica norte-americana. O filme foi foi acusado de fazer propaganda vermelha. Tempos Modernos foi proibido na Itália e na Alemanha.

Em 1938 Charles Chaplin começa a preparar, em segredo, O Grande Ditador. Quando o tema desse filme torna-se publico, Chaplin enfrenta a pressão dos diplomatas alemães e das organizações hitlerianas para que o filme não seja feito. No entanto em 1940, no Capitole e no Astor de Nova York, estréia O Grande Ditador. O filme foi proibido na Argentina e em vários países da América Latina. Em 1941, Chaplin recusa o prêmio da crítica nova-iorquina dado ao O Grande Ditador.

No ano de 1943 Chaplin começa a trabalhar em The Lady Killers, este que mais tarde terá o título mudado para Monsieur Verdoux. E finalmente em 1947 o filme é lançado. No entanto Monsieur Verdoux é mal acolhido pela imprensa norte-americana, somando poucas apresentações. Durante uma sessão da Câmara dos Representantes, em Washington, o deputado John Rankin pede a expulsão de Chaplin dos Estados Unidos e a proibição de seus filmes. Nesse momento Hollywood vive a perseguição contra os “vermelhos” com base nos depoimentos de Menjou, Gary Cooper, Walt Disney, Robert Taylor, entre outros. Charles Chaplin foi atacado várias vezes.

Chaplin começa a trabalhar na história de Luzes da Ribalta em 1949 e o lança em 1952. Nesse mesmo ano, Chaplin recebe a visita de funcionários do Departamento de Imigração por causa da suspeita de militância comunista. Charles Chaplin dias depois deixa os EUA rumo a Londres. Nesta cidade Chaplin lança Luzes da Ribalta, onde encontra recepção calorosa da multidão.

Em 1957 estreia Um Rei em Nova York, filme que ironiza a perseguição política que Chaplin sofreu nos Estados Unidos.

Em 1959 quando completa 70 anos de idade, Chaplin anuncia a volta de “Carlitos”, no entanto este foi um projeto que nunca mais voltou a ser comentado.

No ano de 1962 Chaplin é distinguido com as insígnias de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford. My Autobiography é publicado em 1964 e em 1966 Chaplin realiza o seu último filme, A Condessa de Hong Kong, com Sophia Loren e Marlon Brando.

Chaplin é condecorado com a Legião de Honra francesa em 1971 e em 1972 recebe o Oscar pelo conjunto da obra. Volta aos Estados Unidos em 1973 para receber o Oscar pela Trilha Sonora por Luzes da Ribalta. Ainda em 1973 recebe da Rainha da Inglaterra o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico e falece em 1977 na noite de Natal, na Suíça.

OS (DES)AMORES DE CHAPLIN

Além de explorar a trajetória cinematográfica de Chaplin, o filme de Richard Attenborough também mostra as nuances da vida pessoal de Charles Chaplin como a sua infância difícil com sua mãe, sua ascensão dos teatros até Hollywood e sua conturbada e polêmica vida amorosa: o casamento de Chaplin com a atriz Mildred Harris quando esta tinha apenas 17 anos. O casal tem um filho que falece após 3 dias de nascimento. O casamento dura pouco tempo e o divórcio é conturbado. Mildred Harris acusa Chaplin de “crueldade mental”.

Depois das noticias sensacionalistas sobre a relação de Charles Chaplin e Pola Negri, atriz alemã, Chaplin envolve-se com Lita Grey, esta escolhida para protagonizar a primeira comédia de Chaplin para a United Artists, Em Busca do Ouro. Lita Grey demonstra sinais de gravidez fazendo com que Chaplin case-se rapidamente com ela, pois era delito manter relações sexuais com uma menor. Charles Chaplin e Lita Grey tem dois filhos, Charles Chaplin Jr. E Sidney Earle, mas em 1927 é anunciado o divórcio.

Em 1933 Chaplin casa-se em segredo com Paulette Goddard durante um cruzeiro e divorcia-se em 1942.

E em 1943, Chaplin casa-se com Oona O’Neil. Neste mesmo ano Charles Chaplin comparece perante o Tribunal Federal por solicitação de Joan Berry em virtude do não reconhecimento de paternidade, porém Chaplin é absolvido. No entanto Charles é alvo de campanhas da imprensa e é condenado, em 1946, a pagar as despesas com os cuidados da folha de Joan Berry.

Charles Chaplin e Oona tem oito filhos. Em 1968 Chaplin ainda terá que lidar com o suicídio de seu filho Charles Chaplin Jr.

O filme também destaca as relações de Chaplin com os artistas de Hollywood como a sua amizade com Douglas Fairbanks, que juntos fundaram a United Artists.
Outro ponto importante no filme é transição do cinema mudo para o cinema sonoro. Com a estréia do Cantor de Jazz em 1927, Chaplin percebeu que o cinema mudo estava com seus dias contados. No entanto, Charles Chaplin não admitia que “Carlitos” falasse. E chegou a se opor totalmente ao cinema sonoro. “Detesto os talkies. Eles chegaram para destruir a arte mais antiga do mundo, a arte da mímica. Derrubam o edifício atual do cinema. A beleza plástica continua sendo a coisa mais importante do cinema. O cinema é uma arte pictórica” – declarou Chaplin em entrevista para a revista Motion Pictures Herald.

• gênero:Drama
• duração:02 hs 24 min
• ano de lançamento:1992
• direção: Richard Attenborough
• roteiro:William Boyd, Bryan Forbes e William Goldman, baseado nos livros de David Robinson e Charles Chaplin
• produção:Richard Attenborough e Mario Kassar
• música:John Barry
• fotografia:Sven Nykvist

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